Eu gosto quando um desfile conta alguma coisa.
Gosto quando a moda ultrapassa os limites da modelagem e cria conceitos, nos faz pensar, refletir sobre algum assunto. Esse é o princípio de qualquer arte e para atingir esse status a moda não pode apoiar-se apenas em criatividade e qualidade.
Cada vez mais o que diferencia as marcas é o conceito e a identificação com seu público alvo. A roupa não diz apenas quem você é mas também o que você sente, pensa, deseja.
E gosto ainda mais quando a moda faz tudo isso sem a ambição de ser arte e até sem a ambição de ser moda. Gosto quando a moda faz barulho!!!
A Reserva tem essa pegada. Rony Meisler, diretor criativo da grife, fala isso mesmo: A Reserva não faz moda, faz barulho. E com certeza esse é o segredo do sucesso crescente da marca em um segmento onde muitos tentam e poucos acertam: a moda masculina.
Com um desfile inspirado e inspirador, encerrando o primeiro dia da 31ª edição do São Paulo Fashion Week, a Reserva acertou a mão com uma coleção bem humorada mas crítica, cheia de inovações mas despretenciosa, masculino mas sem ser careta e basiquinho.
Rony Meisler foi à Cuba e se inspirou no povo que, mesmo vivendo sob ditadura militar a décadas, mantém sua alegria, sua poesia e sua criatividade. Misturou Fidel Casro e Charlie Chaplin, batizou a obra de Cuba Libre e fez um desfile brilhante com uma crítica inteligente aos sistemas ditatoriais (inclusive às ditaduras da moda!).
Cheia de cores, brincando sobre a estampa camuflada do uniforme dos soldados e dos guerrilheiros. Bermudas e calças curtas, macacões, tricôs lévissimos (às vezes quase desmanchando) e desconstruções geniais (como a calça que virou camisa), golas duplas e bolsos gigatescos. E mais uma vez uma coleção de sapatos sensacional.
No desfile um grupo de modelos clowns eram soldados trabalhando em uma fábrica de charuto, tendo ao fundo um poster de Che Guevara que também ganhou um nariz de palhaço.
Na camiseta de Rony Meisler no final do desfile estava escrito: "Enquanto conseguimos rir de nós mesmos, estamos a frente de nosso tempo".
É isso aí. Ponto para a Reserva!
Marco Antonio Andre